Monday, April 28, 2008

Slim, Slim Toys for not so Slim, Slim Boys


Utilizando uma variação do título de um livro que muito aprecio de Will Self, apresento-vos a minha nova aquisição na área dos gadgets e electrónica.

Como não tenho tempo para consolas e os computadores que tenho são verdadeiras peças de design e me vão servindo para o que exijo deles, foquei-me no mercado dos equipamentos móveis (para me ir entretendo enquanto não deito as mãos a um iPhone).

Optei por esta maravilha da tecnologia coreana (Samsung U100 – Ultra Slim Edition), auto-apelidado o telemóvel mais fino do mundo, talvez por configurar algo a que aspiro para mim próprio.

Praticamente indestrutível, apesar do seu look frágil, é o companheiro ideal para os fins-de-semana (cabe em qualquer bolso) e para os dias de praia que vão aparecendo no horizonte.

Tem tudo o que preciso: faz e recebe chamadas (característica essencial que me parece ser cada vez mais difícil de encontrar…), tem uma câmara fotográfica que não envergonha (para captar algum imperativo instantâneo) e ainda serve para reproduzir mp3.

Na verdade, o que me levou a comprá-lo não foi nenhuma das razões que até agora elenquei. Comprei-o porque se o quiser usar durante a semana não me estraga as linhas do fato, de tão “slim” que é, e, por outro lado, porque foi relativamente barato, o que é sempre libertador se o perder, riscar, partir, molhar ou encher de areia.

Reconheço que pode ser interpretado como relativamente feminino, mas o que é certo é que os tempos não se compadecem com falsos chauvinismos e as mulheres sempre tiveram um sexto sentido para os acessórios.

Tuesday, April 15, 2008

The Science of Sheep


Há algumas semanas tive que me levantar cedo para uma reunião às 9h00. Já não o fazia há bastante tempo e logo percebi porquê. Não é apenas pelo facto de ter que me levantar de madrugada arruinando, assim, o meu “beauty sleep” mas, essencialmente, por não suportar misturar-me com os transeuntes que povoam as ruas a tais horas insanas. Não tenho nada contra esses pedestres em particular, os das horas de ponta matinais, tenho-o, sim, contra todos eles, o problema é que a essas horas são sempre mais, formando autênticas manadas, multidões cegas a tudo a não ser picar o ponto e apanhar o próximo comboio ou autocarro. Não vêm mais nada nem ninguém.

Comportam-se como verdadeiros autómatos, e isso tem o condão de me irritar solenemente.

Pior que tal automatismo, e, de certo modo, algo paradoxalmente, só mesmo o desnorte e a desordem que aquele provoca. Seria de esperar, penso eu, que autómatos se comportassem de forma mais ordeira e tivessem uma maior capacidade de visão espacial. Mas não é o caso. Talvez por traçarem uma linha recta entre os seus miseráveis aposentos e o seu miserável local de trabalho, deslocam-se nessa linha sem se deterem por um segundo ou se afastarem um centímetro.

É verdadeiramente insuportável descer uma rua em Lisboa. Em todos os sentidos e direcções nos deparamos com tais manadas parecendo que estamos sempre na sua rota. Não vale a pena sequer pensar em funcionalidade ou prioridade, porque aos autómatos não descarregaram essas directrizes, apenas as coordenadas do seu ponto de chegada.


Odeio multidões, de toda a espécie e feitio. Se forem multidões nas ruas lisboetas a coisa ainda piora.

Nem queiram saber a vontade que de má distribuir uns sopapos por estes atrasados, ou então começar a adoptar a estratégia Richard Ashcroft no “Bittersweet Symphony”, que aqui deixo para vosso deleite.


Assim, não me vou admirar quando nos aparecer uma versão real e portuguesa do “Um Dia de Raiva”. E garanto-vos que o Michael Douglas é um anjinho comparado comigo!!!


Se se depararem na rua com a pessoa com mais estilo que já conheceram, provavelmente serei eu, por isso é melhor afastarem-se!



Give a Warm Hand to The Last Shadow Puppets



Mais música... Para verem quão cultural pode ser um yuppie!

Desta vez trago-vos uma banda que, à sua maneira, é um misto de yuppie e mod. Por isso só pode dar bom resultado. Trata-se de um supergrupo formado pelo vocalista e guitarrista dos mui apreciados Arctic Monkeys, Alex Turner (Sheffield), e pelo vocalista e guitarrista dos subestimados The Rascals, Miles Kane (Liverpool).

Tornaram-se amigos desde a altura em que as duas bandas estiveram juntas em digressão e, uns tempos depois, decidiram criar um projecto paralelo.

O primeiro single já saiu. É este The Age of the Understatement, que é também o nome do álbum, o qual sairá brevemente.

Deixo-vos o videoclip do single para fazerem o vosso juízo. Para mim, conhecedor da matéria, os miúdos descobriram agora o Scott Walker, e não é apenas o som que os denuncia, trambém os motivos "soviéticos" do videoclip se enquadram perfeitamente na estética do infant terrible da pop, com um pequeno toque de filme Bond dos anos 70. Mas quem se importa?!? É bem melhor do que a maioria da porcaria que se faz por aí e que os críticos enaltecem.



Então... cheira ou não cheira a Scott Walker???



Monday, April 14, 2008

Heroes & Villains

Mesmo quando era miúdo nunca fui muito dado a banda desenhada. Sempre gostei mais de outro tipo de “literatura”.

Como é óbvio também lia BD, com especial preponderância para a Marvel, não sei bem se por opção ou por verdadeira falta de escolha no mercado nacional dos anos 80.

Mas o que é certo é que a BD me começou a interessar mais agora do que naquela época. Desconfio que por razões esperadas e bastante evidentes. É que a melhor BD não é a dirigida a crianças ou adolescentes mas antes a que tem os adultos como público-alvo. Não estou a falar de Manara’s e outros de cariz erótico, mas, essencialmente, da BD de heróis e vilões.

O meu interesse terá sido despoletado, em grande parte, pelo filme de Shyamalan “Unbreakable” e por uma BD futurista sobre o universo “mod”, “The Originals” de Dave Gibbons. Depois foram aparecendo as grandes produções cinematográficas baseadas em heróis de BD, as quais sempre nos levam a descobrir novas ideias e personagens e, de quando em vez, nos levam aos originais.


Faço notar, desde já, que percebo muito pouco de BD. Conheço alguma coisa mas estou muito longe de ser um especialista. Na verdade, até me parece que para ser especialista neste campo é requisito essencial ser um verdadeiro fanático, coisa que, como disse, estou longe de ser.

Então porquê um post sobre o assunto?

Por duas razões. A primeira, e muito prosaica, por que me apercebi há uns dias que estava a passar na televisão o “Hellboy”, do Guillermo del Toro. Filme baseado em BD que aprecio bastante, no seu mix de história, oculto e fantástico. E, a segunda, porque, aqui há tempos, tive uma discussão sobre qual seria o melhor super-herói de todos os tempos, temática que me deixou a analisar, quase psicanaliticamente, as diversas personagens de BD que me fascinam ou fascinaram e que ainda hoje frequentemente recupero.

Foi, pois, por isso que decidi escrever este post, mais de uma perspectiva de glorificação dos vilões (sim, porque eu sou daqueles que, habitualmente, “torce” pelo “mau da fita”). Mas como bem me ensinou Shyamalan, não há vilão sem herói, nem vice versa, daí que me tenha sentido compelido a invocar também as “nemesis” dos vilões que mais aprecio.

Comecemos, então, a nossa lista.

Em primeiro lugar, e como não poderia deixar de ser, o vilão como mais estilo da história da BD: Doctor Karl Ruprecht Kroenen.

Personagem da já invocada BD “Hellboy”, e sublimemente retratada na versão cinematográfica de Del Toro.

Uma alta patente das SS, cientista com um vício de auto-cirurgia, praticamente imortal e exímio nas mais variadas artes de combate. O seu look futurista e, em especial a sua máscara de gás, tornam-no o mais cool de todos os vilões.

Avaliem vocês mesmos…



Como prometido, aqui vos deixo também a sua “nemesis”, Hellboy, ele mesmo.



Em segundo lugar, terei que colocar o omnipotente Galactus. Devorador de mundos. O criador do Surfista Prateado, o qual se rebelou contra o seu próprio amo e se rendeu aos desígnios do bem.


Retomando a discussão que há pouco referi, devo dizer que o surfista prateado pode ser o mais interessante dos super-heróis de BD. Sendo um alienígena, apresenta características muito humanas. É um ser dividido e atormentado pela sua missão de preservar a subsistência da sua pátria e o amor da sua vida em detrimento da vida de todos os outros povos e seres da galáxia. Sempre solitário e quase eremita, luta por vencer o seu sentimento de culpa e ultrapassar a distância da sua amada. Talvez este seja o super-herói que, a anos luz do ser humano, mais se aproxima da vivência comum do Homem, dos seus medos e das suas inseguranças, e, por isso, talvez se afirme como o meu super-herói predilecto.


Num outro registo, e em terceiro lugar, haverá que referir um vilão que não foi criado no universo da BD mas que, conceptualmente, está ao mesmo nível. O inimitável Darth Vader. Muito do seu charme foi-lhe conferido pela voz distorcida de James Earl Jones, e essa não poderia ser transmitida através das páginas de BD. De todo o modo, este post tem mais a ver com vilões do que com BD, razão pela qual me sinto legitimado a incluí-lo nesta lista.


Revelado o top 3, parece-me ainda haver espaço para personagens híbridas, entre o herói e o vilão, por opção ou pelos olhos do leitor/espectador.

Nesta vertente, comecemos por uma personagem de que me recordei em virtude de um comentário a um dos meus últimos posts. Trata-se de “Dorian Gray” (sim, o de Oscar Wilde) na visão dos criadores da BD da DC Comics “The League of Extraordinary Gentlemen”. A ideia é brilhante. Resgatar personagens marcantes da literatura universal (Allan Quatermain, Dr. Jekyll and Mr. Hyde, Mark Twain, Captain Nemo, etc.) e juntá-los em defesa da humanidade. A versão cinematográfica é péssima mas a BD é conceptualmente muito boa. E entre as diversas personagens destaca-se o famigerado Dorian Gray, imortal como contrapartida de um pacto diabólico, envelhecendo apenas no seu retrato, é uma personagem muito mais interessante do que a “retratada” por Wilde, pois é-lhe dada na BD uma ambiguidade moral que a torna mais real na imaginação do leitor.



Por último, justifica-se invocar uma outra personagem, esta, herói aos olhos da maioria, mas, eventualmente, vilão na perspectiva de alguns. Falo de V, a personagem principal de “V for Vendetta”. Na sua máscara de Guy Fawkes (how appropriate?!?), apresenta-se como um revolucionário, um rebelde e instigador. Luta contra o totalitarismo ou contra a ordem estabelecida (depende da perspectiva). A mensagem que se tenta passar é, essencialmente, a da luta pela liberdade. Mas o seu comportamento e missão levantam questões mais profundas, nomeadamente, a da sua motivação. A liberdade ou a vingança? Objectivo altruísta e social ou meramente egoísta e pessoal? Também aqui nos aparece um herói/vilão que, pese embora seja baseado numa personagem real, suplanta largamente, em riqueza e profundidade, muitas das personagens da literatura dita respeitável e erudita.



Afinal sempre podemos chamar literatura à BD. Mas só se prometerem deixar os vilões vencer de vez em quando…

Thursday, April 03, 2008

The National

Mais um post sobre música...

Este parece-me realmente justificado, essencialmente pelo intuito de dar a conhecer uma das melhores bandas americanas da actualidade.

Não são rookies (já andam nisto há uns anitos) mas não lhes foi dada ainda, julgo, a devida atenção. São de Cincinatti e já não são miúdos nenhuns. Estamos a falar de música um bocadinho mais intelectual do que a que tem pairado por estas bandas nos últimos tempos.

Uma vez que vão tocar na Aula Magna (em concerto já esgotado, sorry), tenho pretexto para falar deles (como se precisasse de algum pretexto para escrever sobre o que me apetecer no meu próprio blog?).

Acho que se superaram no último álbum, este "Boxer", onde não há uma única música de que não goste. Algo melancólico, é certo, mas também andam melancólicos os tempos, pelo que até por aí tudo encaixa na perfeição.

Gosto igualmente muito do "artwork" associado aos discos da banda, atribuído a um fotógrafo/realizador muito promissor.

Um dos meus singles preferidos do álbum:


O álbum anterior (também muito bom, já revelador do futuro brilhante da banda):


O primeiro álbum:

Deixo-vos com uma versão brutal (ouçam o final!) do primeiro single do "Boxer" - Fake Empire - ao vivo no Letterman, em Julho do ano passado.



Wednesday, April 02, 2008

Dear John


Este, trata-se de um post há muito devido, a aguardar maior clarividência e mestria de prosa do autor. Como estas últimas demoram a chegar e o tributo não podia esperar mais tempo, aqui fica esta humilde mensagem acerca de um realizador/argumentista/actor nada menos que genial.


John Cassavetes não é um realizador qualquer aos olhos dos cinéfilos e, bem assim, mesmo do grande público. É conhecido por estes últimos não sabem bem eles porquê. Desconfio, eu, que será, essencialmente, pela sua carreira de actor e, mais propriamente, pela sua participação nos clássicos intemporais “Dirty Dozen” e “Rosemary’s Baby”.


Esta visão redutora é, no mínimo, injusta e penalizadora para quem não se dedicou a descobrir a sua verdadeira vida – a de realizador.


Na verdade, Cassavetes – como ele próprio bastas vezes revelou – apenas actuava em filmes alheios como forma de angariar fundos para os seus próprios projectos. Era excelente actor, atenção. Desenganem-se aqueles que correriam já a colocar-lhe um rótulo de equiparação a Rob Reiner’s, Sidney Pollack’s e quejandos. Não poderiam estar mais longe da realidade. Cassavetes é, para mim, o realizador por excelência, mas, enquanto actor, conseguiu sempre “roubar” o protagonismo às alegadas estrelas, vide os dois títulos que mencionei supra.

Certo é que, contudo, não vale a pena gastar mais tempo com a carreira de actor de Cassavetes quando há tanto para explorar na sua vertente de realizador.


Neste campo atribuem-lhe o epíteto de “pai do cinema independente”. Consigo perceber porquê, mas considero que também esta classificação não faz jus à sua inequívoca genialidade. Cassavetes realizou cinema independente, não há qualquer dúvida, mas só se interpretarmos o termo como representativo de um cinema “low budget”. Pequeno, só mesmo o seu orçamento, porque tudo o resto é grandioso.

Comecemos pelo seu primeiro filme, “Too Late Blues” (com Bobby Darin – sim, o cantor – como protagonista). Habitualmente, as primeiras obras são inferiores, resultado do primeiro impacto com o universo do cinema e da necessidade de apuramento ou afinação estética do realizador. No seu caso, a perfeição estética era inata e a sua personalidade funcionava como couraça para o tal impacto Hollywoodesco. Assim sendo, do seu primeiro projecto – tão injustamente esquecido – resultou uma verdadeira pérola da sétima arte. Eu só há meia dúzia de anos é que o consegui ver, numa retrospectiva da Cinemateca e ainda não o consegui comprar em DVD.



Tudo o que se lhe seguiu serviu apenas para confirmar a mestria que Cassavetes havia demonstrado atrás das câmaras. Com temáticas sempre profundas, muito ligadas aos conflitos sociais e familiares, bem como ao estilo de vida americanos, depositou em todos os seus filmes um crivo único que torna hoje a sua visualização numa experiência actual e, mais do que isso, intemporal.

Veja-se um dos meus preferidos, “Husbands” como diálogos insuperáveis e muitos furos acima de qualquer argumentista contemporâneo, já para não falar do lote de actores, os gigantes Peter Falk e Ben Gazzara.

Veja-se o que muitos – devidamente – apontam como a sua obra maior, “Opening Night”, onde contracena com a sua mulher, a diva Gena Rowlands, uma das melhores actrizes do seu tempo, num filme que tem uma fotografia insuperável, como demonstra a “film still” que publico abaixo.



Veja-se, ainda, o mais arrojado “The Killing of a Chinese Bookie”, outra vez com Ben Gazzara, no que foi o papel da sua vida.

E poderia continuar infindavelmente até esgotar toda a cinematografia de Cassavetes, desde “Shadows” até ao seu último, “Big Trouble”.


Todos excelentes! Não posso dizer que haja um filme de Cassavetes de que não goste e, mais ainda, que não seja uma obra prima.

Para quem se interessar recomendo a caixa da Critterion “Five Films” ou a sua parente (um pouco mais pobre) editada em exclusivo pela Fnac.

Como complemento, e para além dos títulos que referi, recomendo vivamente “Minnie & Moskowitz” (com edição portuguesa da Atalanta) e “Love Streams” (sem edição nacional).


Para além do seu trabalho, o qual dificilmente poderá dissociar-se da sua vida – até a sua mulher participava em quase todos os seus filmes –, Cassavetes tinha uma faceta familiar muito marcada que, julgo eu, terá contribuído fortemente para a carga emocional do seu cinema, para além de ser um individuo alegadamente muitíssimo espirituoso, inteligente e divertido. Fumava três maços de cigarros por dia, o que acabou por matá-lo, mas segundo reza a lenda, poucos dias antes da sua morte, já doente o suficiente para não conseguir aguentar uma câmara de mão, ria-se a bandeiras despregadas durante a leitura do seu argumento “She’s So Lovely” com Sean Penn (filme que viria a ser postumamente realizado pelo filho, Nick Cassavetes, já sem a mestria e toque genial do pai).


Para mim, John Cassavetes foi admirável em todas as componentes da sua vida – incluindo no seu estilo, aspecto essencial para este blog –, e a sua morte representou uma enorme perda para as artes.

Ficam os seus filmes, as suas actuações, as suas entrevistas e a lenda que, inevitavelmente, se criou em seu redor, e que serve de influência a tantos realizadores e actores das mais recentes gerações, entre os quais o meu predilecto Vincent Gallo.

Depois disto, acho que vou para casa, para uma maratona de Cassavetes.