Dou por mim, quotidianamente, e cada vez mais, fascinado pelas coisas simples da vida.
Reconheço que, pessoalmente, sou algo complicado, ou, antes, complexo.
Certo é, contudo, que, quase inadvertidamente, me vejo cativado pela simplicidade e a renegar, com asco visceral, tudo o que se me afigura complexo e pretensamente intelectual.
Na verdade, é por isso que vou alimentando este blog quase exclusivamente com temáticas aparentemente frívolas, materialistas e hedonísticas.
Atenção, não tenho nada contra o raciocínio e o exercício do intelecto. Muito pelo contrário. No entanto, o que vejo hoje é uma concentração desse intelecto em algo que, muito provavelmente, não deveria merecer o nosso esforço intelectual.
Tomemos como exemplo as notícias.
De uns tempos a esta parte deixei de ver telejornais, embora continue a ler a imprensa escrita. Na maior parte das vezes leio mas não gosto. Não falo do teor das notícias ou da técnica jornalística. Estou a falar da “experiência” de ler o jornal. Como experiência, para mim, inteirar-me do que a comunicação social entende como temáticas importantes é confrangedoramente medíocre. Não me estimula o raciocínio nem me confere uma experiência intelectual satisfatória, e muito menos divertida.
O mesmo se diga da literatura. É muito raro encontrar algo que mexa comigo, que me entusiasme. Compro livros compulsivamente e, de seguida, apercebo-me que eles se vão empilhando nas estantes, não por falta de tempo para os ler, mas porque o entusiasmo que me levou a comprá-los não se concretiza na sua leitura. Desiludem.
É no mínimo curioso – ou talvez não – que aquilo que maior prazer me dá ler seja a coluna semanal do Alex James no The Independent (da qual já falei em post anterior) e o último romance que me “encheu as medidas” tenha mais de 40 anos e seja da autoria de J.D.Sallinger (que escreveu 4 livros durante toda a sua vida).
Talvez a curiosidade não seja para aqui chamada. Talvez a resposta seja, precisamente…simples!
O que me cativa, aquilo de que preciso, é de simplicidade!
Não me interessa verdadeiramente quem irá ser o próximo líder do PSD, quais as conclusões a que chegou a CMVM no caso BCP e muito menos que o iletrado do Saramago tem uma exposição em Lisboa.
A sociedade actual tornou-se numa sociedade de informação, na qual quem não está informado é segregado e rotulado de estúpido. E ninguém me tira da cabeça que este é o nosso maior problema. As instituições e organizações são lideradas por pessoas informadas (que vêm a CNN, o Bloomberg e lêem o Financial Times) mas que não passam de pobres de espírito, preocupados com o que é complexo mas desligados da simplicidade intelectual. Este é um problema que afecta também – e de que maneira – a educação. Já ninguém aprende nada, antes é confrontado com avalanches de informação com o pretexto de ser a mesma necessária para os preparar para o mundo moderno e para a especialização. Vejam que quem aprende matemática não sabe escrever português; quem estuda filosofia não sabe nada de economia e ninguém aprende nada de arte.
É óbvio que não reclamo um regresso à academia grega ou ao renascimento italiano. Contudo, não deixo de me desiludir com o rumo que a sociedade ocidental contemporânea está a levar, onde não há lugar para apreciar a beleza das coisas (eminentemente simples mas não simplista) nem para pensar sobre os assuntos que realmente deveriam ocupar a mente de cada um de nós.
Se é certo que este blog levaria a crer que eu apenas penso (e opino) sobre o tríptico consumismo, materialismo e hedonismo, tal não corresponde à verdade!
Não é preciso ser hyppie para apreciar a simplicidade e um verdadeiro yuppie terá o condão de encarar a sua vida de uma perspectiva simples.
É, pois, notória a razão que me leva a, todas as quartas-feiras, abrir a página do The Independent para ler a crónica de Alex James. Ele não é especialmente letrado e não tem a “experiência” que confere a informação, daí falar sobre temas que muito me interessam, desde o pôr-do-sol na Inglaterra rural até à sustentação racional das suas opções de vida.
Parafraseando uma participante de um concurso televisivo que foge à mediocridade instalada e que me permite olhar para as coisas mais simples mas não menos interessantes da existência contemporânea, “simplicity has its voice”!
Se não tem, devia ter!