Monday, June 23, 2008

Au Revoir, Mon Cher Albert

Ontem foi um dia de luto para a literatura universal.

Foi com grande pesar que descobri hoje, pela imprensa, ter falecido, durante o dia de ontem, com 94 anos, um dos meus escritores de estimação, Albert Cossery.


Nascido no Egipto e residente em Paris desde 1945, onde viveu sempre no mesmo hotel, o modesto “Louisiane”, empilhando no seu quarto apenas roupas e livros, não tinha nada a que pudesse chamar “seu”, para além dessas duas das três coisas a que dava verdadeira importância. A terceira, talvez a mais preciosa, era o seu ócio, do qual sempre fez a merecida apologia.

Não espanta, pois, que este colosso da literatura, incompreensivelmente pouco conhecido entre nós, tivesse escrito apenas 8 livros em mais de 60 anos de carreira.

Como ele deliciosamente confessava, não escrevia mais de uma linha por dia, e, isso, somente nos dias em que não tinha nada melhor para fazer. Melhor, no seu entender, era vestir-se a rigor, qual verdadeiro dandy de tez egípcia e língua francesa, e deter-se nas esplanadas ou passear-se vagarosamente pelo seu bairro, Saint-Germain de Prés.

Não precisava de mais, apenas que o deixassem entregue à sua observação, à sua meditação, em suma, à sua preguiça contemplativa.



Essa preguiça era Cossery, e, mesmo só o conhecendo pelos seus livros e entrevistas, sei que vou sentir falta dela.

Quem sabe poderei eu tornar-me num discípulo deste Albert, para quem importe mais o que deixa de se fazer do que aquilo que se faz.

Não será esta a simplicidade a que venho aspirando?

Vou continuar a ler-te, Albert, à espera que a resposta esteja nas tuas solitárias e demoradas linhas, esperando, sinceramente, que, estejas onde estiveres, possas perpetuar essa preguiça que muitos de nós, os que por cá ficamos, tanto invejamos.


1 comment:

Nuno Cardoso Ribeiro said...

Então e o Luiz Pacheco?? Na merece um postzito??

;-)