Será que, mais do que um “yuppie”, me deverei considerar um “dandy” dos tempos modernos?
Tenho-me perguntado precisamente isso ultimamente. E parece-me que a resposta, a priori, não é assim tão simples.
A primeira coisa a fazer para apurar esta tão premente questão será lançarmo-nos na determinação do conceito e definição de “dandy”.
O que é, afinal, um “dandy”?
Todos parecem ter uma ideia ou opinião sobre o assunto, mas muito poucos se terão preocupado em procurar a verdadeira origem desta “espécie” e a sua definitiva caracterização.
Para tanto, e como seria de esperar tendo em conta a temática em discussão, temos que recorrer aos clássicos: Baudelaire, na sua fase metafísica de “dandyismo”, definiu o “dandy” como alguém que eleva a estética a uma verdadeira religião e, em certos aspectos, se aproxima da espiritualidade e do estoicismo. Para este autor, o “dandyismo” implica o cultivar da personificação da ideia de beleza (interior e exterior) na própria pessoa e a satisfação das suas paixões materiais e intelectuais. Para o “dandy” perfeito estas coisas não são mais do que um símbolo da superioridade aristocrática da sua mente.
Todos parecem ter uma ideia ou opinião sobre o assunto, mas muito poucos se terão preocupado em procurar a verdadeira origem desta “espécie” e a sua definitiva caracterização.
Para tanto, e como seria de esperar tendo em conta a temática em discussão, temos que recorrer aos clássicos: Baudelaire, na sua fase metafísica de “dandyismo”, definiu o “dandy” como alguém que eleva a estética a uma verdadeira religião e, em certos aspectos, se aproxima da espiritualidade e do estoicismo. Para este autor, o “dandyismo” implica o cultivar da personificação da ideia de beleza (interior e exterior) na própria pessoa e a satisfação das suas paixões materiais e intelectuais. Para o “dandy” perfeito estas coisas não são mais do que um símbolo da superioridade aristocrática da sua mente.
Modernamente, e de acordo com uma visão corrente do “dandyismo”, tende a catalogar-se o “dandy” como um individualista, excessivo nos seus maneirismos e apresentação, tal como em toda a sua vivência, social ou particular. Muitas vezes se circunscreve a caracterização de um “dandy” à sua aparência física e maneira de vestir, descurando-se o aspecto interior e de estilo de vida.
Não obstante a subversão da ideia e conceito de “dandy”, ainda se encontram alguns (poucos) resistentes que, como comummente se vem verificando desde o final do século passado, são dados ao extremismo bacoco e, eminentemente, ridículo.
Não obstante a subversão da ideia e conceito de “dandy”, ainda se encontram alguns (poucos) resistentes que, como comummente se vem verificando desde o final do século passado, são dados ao extremismo bacoco e, eminentemente, ridículo.
Mas, assim sendo, i.e., definido o conceito de “dandy”, impõe-se arvorar nova questão: Poderá um “yuppie” ser, concomitantemente, um "dandy"?
Como já todos conhecemos o conceito de “yuppie” (vide primeiro post deste blog), escuso-me a analisá-la, partindo, desde já, para uma resposta frontal à questão colocada.
Um “yuppie” tem, necessariamente, a essência de um “dandy” mas apenas alguns “yuppies” são verdadeiros “dandies”.
Passo a expor a minha tese:
As características e motivações de um “yuppie” são muito semelhantes às de um “dandy” (Se não acreditam comparem o primeiro post deste blog com a descrição de um “dandy” contida na página web dandyism.net.). O tradicionalismo e conservadorismo, o materialismo, o status social, a competitividade, o gosto por vivências selectas. Tudo isto é partilhado por ambos, “yuppies” e “dandies”, de forma mais ou menos assumida.
A diferença entre eles, porém, reside em algo muito mais espiritual e interior, mas que se revela de forma muito prática.
Enquanto um “yuppie” se rodeia de “prazeres” materialistas quotidianos como as melhores e mais actuais tecnologias, a melhor e mais dispendiosa gastronomia e a moda mais conceituada, com o objectivo de demonstração do seu status, sucesso social e profissional e afirmação do seu poderio económico, o “dandy” procura todas essas coisas com um substrato espiritual, almejando uma vivência hedonista de todos esses prazeres. A aparente redundância, aqui, efectivamente, não se verifica. O “yuppie”, sem uma componente “dandy”, não retirará das benesses que a si mesmo se oferece o prazer que das mesmas extrairá um “dandy”, que as vive, hedonisticamente, de forma quase obsessiva. Para um “yuppie”, jantar no restaurante mais en vogue (para lhe dar já aqui uma pincelada de dandyismo) significa apenas a ostentação do seu sucesso. Para um “dandy”, esse mesmo jantar será desfrutado não apenas da perspectiva de sucesso (que me parece, aliás, inata à própria figura de um “dandy” – nem que falemos apenas de sucesso pessoal aos olhos do próprio) mas, essencialmente, como uma oportunidade de experimentar os prazeres da inserção num ambiente hip, da eventual qualidade da gastronomia, da afirmação da sua visão estética (retratada na sua forma de vestir e nas suas maneiras) e do exercício intelectual da sua superioridade.
Ora, posto isto, chegamos à brilhante conclusão de que “yuppies” poderá haver muitos, mas, desses, aqueles que configuraremos como “dandies” serão muito poucos.
Então e a resposta ao título deste post? Serei eu um “dandy”?
Claro que sim!!!!
Como já todos conhecemos o conceito de “yuppie” (vide primeiro post deste blog), escuso-me a analisá-la, partindo, desde já, para uma resposta frontal à questão colocada.
Um “yuppie” tem, necessariamente, a essência de um “dandy” mas apenas alguns “yuppies” são verdadeiros “dandies”.
Passo a expor a minha tese:
As características e motivações de um “yuppie” são muito semelhantes às de um “dandy” (Se não acreditam comparem o primeiro post deste blog com a descrição de um “dandy” contida na página web dandyism.net.). O tradicionalismo e conservadorismo, o materialismo, o status social, a competitividade, o gosto por vivências selectas. Tudo isto é partilhado por ambos, “yuppies” e “dandies”, de forma mais ou menos assumida.
A diferença entre eles, porém, reside em algo muito mais espiritual e interior, mas que se revela de forma muito prática.
Enquanto um “yuppie” se rodeia de “prazeres” materialistas quotidianos como as melhores e mais actuais tecnologias, a melhor e mais dispendiosa gastronomia e a moda mais conceituada, com o objectivo de demonstração do seu status, sucesso social e profissional e afirmação do seu poderio económico, o “dandy” procura todas essas coisas com um substrato espiritual, almejando uma vivência hedonista de todos esses prazeres. A aparente redundância, aqui, efectivamente, não se verifica. O “yuppie”, sem uma componente “dandy”, não retirará das benesses que a si mesmo se oferece o prazer que das mesmas extrairá um “dandy”, que as vive, hedonisticamente, de forma quase obsessiva. Para um “yuppie”, jantar no restaurante mais en vogue (para lhe dar já aqui uma pincelada de dandyismo) significa apenas a ostentação do seu sucesso. Para um “dandy”, esse mesmo jantar será desfrutado não apenas da perspectiva de sucesso (que me parece, aliás, inata à própria figura de um “dandy” – nem que falemos apenas de sucesso pessoal aos olhos do próprio) mas, essencialmente, como uma oportunidade de experimentar os prazeres da inserção num ambiente hip, da eventual qualidade da gastronomia, da afirmação da sua visão estética (retratada na sua forma de vestir e nas suas maneiras) e do exercício intelectual da sua superioridade.
Ora, posto isto, chegamos à brilhante conclusão de que “yuppies” poderá haver muitos, mas, desses, aqueles que configuraremos como “dandies” serão muito poucos.
Então e a resposta ao título deste post? Serei eu um “dandy”?
Claro que sim!!!!
Não no sentido extremista a que hoje é o dandyismo associado, mas, decididamente, numa clara aproximação ao seu conceito clássico (e, assim, mais verdadeiro).
E não se pode dizer que esteja mal acompanhado, o último “dandy of the year” foi o famoso Lapo Elkann (do clã Agnelli, neto do Avoccato Gianni), personalidade que muito aprecio, e com a qual, aliás, sinto alguma afinidade.
E não se pode dizer que esteja mal acompanhado, o último “dandy of the year” foi o famoso Lapo Elkann (do clã Agnelli, neto do Avoccato Gianni), personalidade que muito aprecio, e com a qual, aliás, sinto alguma afinidade.
Menção honrosa para Winston Chesterfield, pianista e bon vivant londrino.
Are you a Dandy?
4 comments:
Eu diria que, além de dandy, V. Exa. tem algo de maravilhosamente "diletante"...
Reformulo: V. Exa. tem grande capacidade de trabalho, suficiente para completar as funções em muito menor tempo do que as exigidas 8 horas diárias.
E isso, meu caro, não é característica de yuppie ou de dandy, já nasceu consigo, muito antes de saber falar inglês....
Só faço duas simples perguntas:
Onde está o Oscar Wild?
Pode um homosexual ser dandy?
:)abraço
Caríssimo João Cronista,
Muito apreciei a ironia e subversão do comentário, aliás muito "dandyish". Certo é que as respostas são muito simples e nada "afectadas". Oscar Wilde foi, sem dúvida, um dandy, aliás com muitas características do que seria um yuppie naquela era, mas, a verdade, é que o seu look e a sua obra nunca me satisfizeram. O look, de uma perspectiva essencialmente estética, evocava de forma demasiado pronunciada uma postura "falsa", quase caricatural, que eu considero levar a estética dandy para o reino do carnavalesco e da máscara. Quanto à obra, sempre me passou ao lado, com alguns pensamentos dignos de nota (talvez o seu maior contributo), tudo o resto me deixou com a sensação de génio desperdiçado. Mesmo no seu Dorian Gray (ideia brilhante) não conseguiu agarrar a vaidade como tema universal e pessoalizou-a. Reconheço que essa pessoalização é, provalvelmente, uma das características mais definidoras de um dandy, mas não poderei deixar de, enquanto leitor, com pouco interesse pela persona de Wilde, ficar descontente com o resultado final de uma ideia que podia ter sido explorada de forma tão mais profunda e intemporal.
Wilde podia muito bem figurar neste post. E deixá-lo de fora não foi, ao contrário do que o V. comentário parece indiciar, uma decisão discriminatória. Sem dúvida que muitos dandies serão homossexuais (talvez, até, uma grande maioria), sem que isso os descaracterize enquanto dandies. Estou certo, porém, que esses serão os dandies menos genuínos, por ficarem a dever grande parte do seu dandyismo a traços de feminilidade inerentes à sua orientação sexual, os quais muitas vezes resultam em extravagância e afectação. Note-se que não estou a afirmar que as mulheres sejam, por definição, extravagantes e afectadas. Antes quero demonstrar que um homossexual tende, muitas vezes, a extravasar a sua sexualidade através dessas características. Isso não é bom nem mau. É o que é, mas não faz de ninguém um genuíno dandy. Oscar Wilde era mais do que isso. Vivia a boémia e mesmo a libertinagem (essencialmente intelectual) própria de um dandy sem que isso se colasse à sua sexualidade. Enfim, Oscar não ficou neste post mas até podia ter ficado. O blog é meu e eu é que decido quem entra e quem fica de fora. Aqui fica um capricho de dandy. E também se justifica dar hipótese às novas gerações. Wilde morreu à tempo demais.
Abraço.
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