Monday, April 14, 2008

Heroes & Villains

Mesmo quando era miúdo nunca fui muito dado a banda desenhada. Sempre gostei mais de outro tipo de “literatura”.

Como é óbvio também lia BD, com especial preponderância para a Marvel, não sei bem se por opção ou por verdadeira falta de escolha no mercado nacional dos anos 80.

Mas o que é certo é que a BD me começou a interessar mais agora do que naquela época. Desconfio que por razões esperadas e bastante evidentes. É que a melhor BD não é a dirigida a crianças ou adolescentes mas antes a que tem os adultos como público-alvo. Não estou a falar de Manara’s e outros de cariz erótico, mas, essencialmente, da BD de heróis e vilões.

O meu interesse terá sido despoletado, em grande parte, pelo filme de Shyamalan “Unbreakable” e por uma BD futurista sobre o universo “mod”, “The Originals” de Dave Gibbons. Depois foram aparecendo as grandes produções cinematográficas baseadas em heróis de BD, as quais sempre nos levam a descobrir novas ideias e personagens e, de quando em vez, nos levam aos originais.


Faço notar, desde já, que percebo muito pouco de BD. Conheço alguma coisa mas estou muito longe de ser um especialista. Na verdade, até me parece que para ser especialista neste campo é requisito essencial ser um verdadeiro fanático, coisa que, como disse, estou longe de ser.

Então porquê um post sobre o assunto?

Por duas razões. A primeira, e muito prosaica, por que me apercebi há uns dias que estava a passar na televisão o “Hellboy”, do Guillermo del Toro. Filme baseado em BD que aprecio bastante, no seu mix de história, oculto e fantástico. E, a segunda, porque, aqui há tempos, tive uma discussão sobre qual seria o melhor super-herói de todos os tempos, temática que me deixou a analisar, quase psicanaliticamente, as diversas personagens de BD que me fascinam ou fascinaram e que ainda hoje frequentemente recupero.

Foi, pois, por isso que decidi escrever este post, mais de uma perspectiva de glorificação dos vilões (sim, porque eu sou daqueles que, habitualmente, “torce” pelo “mau da fita”). Mas como bem me ensinou Shyamalan, não há vilão sem herói, nem vice versa, daí que me tenha sentido compelido a invocar também as “nemesis” dos vilões que mais aprecio.

Comecemos, então, a nossa lista.

Em primeiro lugar, e como não poderia deixar de ser, o vilão como mais estilo da história da BD: Doctor Karl Ruprecht Kroenen.

Personagem da já invocada BD “Hellboy”, e sublimemente retratada na versão cinematográfica de Del Toro.

Uma alta patente das SS, cientista com um vício de auto-cirurgia, praticamente imortal e exímio nas mais variadas artes de combate. O seu look futurista e, em especial a sua máscara de gás, tornam-no o mais cool de todos os vilões.

Avaliem vocês mesmos…



Como prometido, aqui vos deixo também a sua “nemesis”, Hellboy, ele mesmo.



Em segundo lugar, terei que colocar o omnipotente Galactus. Devorador de mundos. O criador do Surfista Prateado, o qual se rebelou contra o seu próprio amo e se rendeu aos desígnios do bem.


Retomando a discussão que há pouco referi, devo dizer que o surfista prateado pode ser o mais interessante dos super-heróis de BD. Sendo um alienígena, apresenta características muito humanas. É um ser dividido e atormentado pela sua missão de preservar a subsistência da sua pátria e o amor da sua vida em detrimento da vida de todos os outros povos e seres da galáxia. Sempre solitário e quase eremita, luta por vencer o seu sentimento de culpa e ultrapassar a distância da sua amada. Talvez este seja o super-herói que, a anos luz do ser humano, mais se aproxima da vivência comum do Homem, dos seus medos e das suas inseguranças, e, por isso, talvez se afirme como o meu super-herói predilecto.


Num outro registo, e em terceiro lugar, haverá que referir um vilão que não foi criado no universo da BD mas que, conceptualmente, está ao mesmo nível. O inimitável Darth Vader. Muito do seu charme foi-lhe conferido pela voz distorcida de James Earl Jones, e essa não poderia ser transmitida através das páginas de BD. De todo o modo, este post tem mais a ver com vilões do que com BD, razão pela qual me sinto legitimado a incluí-lo nesta lista.


Revelado o top 3, parece-me ainda haver espaço para personagens híbridas, entre o herói e o vilão, por opção ou pelos olhos do leitor/espectador.

Nesta vertente, comecemos por uma personagem de que me recordei em virtude de um comentário a um dos meus últimos posts. Trata-se de “Dorian Gray” (sim, o de Oscar Wilde) na visão dos criadores da BD da DC Comics “The League of Extraordinary Gentlemen”. A ideia é brilhante. Resgatar personagens marcantes da literatura universal (Allan Quatermain, Dr. Jekyll and Mr. Hyde, Mark Twain, Captain Nemo, etc.) e juntá-los em defesa da humanidade. A versão cinematográfica é péssima mas a BD é conceptualmente muito boa. E entre as diversas personagens destaca-se o famigerado Dorian Gray, imortal como contrapartida de um pacto diabólico, envelhecendo apenas no seu retrato, é uma personagem muito mais interessante do que a “retratada” por Wilde, pois é-lhe dada na BD uma ambiguidade moral que a torna mais real na imaginação do leitor.



Por último, justifica-se invocar uma outra personagem, esta, herói aos olhos da maioria, mas, eventualmente, vilão na perspectiva de alguns. Falo de V, a personagem principal de “V for Vendetta”. Na sua máscara de Guy Fawkes (how appropriate?!?), apresenta-se como um revolucionário, um rebelde e instigador. Luta contra o totalitarismo ou contra a ordem estabelecida (depende da perspectiva). A mensagem que se tenta passar é, essencialmente, a da luta pela liberdade. Mas o seu comportamento e missão levantam questões mais profundas, nomeadamente, a da sua motivação. A liberdade ou a vingança? Objectivo altruísta e social ou meramente egoísta e pessoal? Também aqui nos aparece um herói/vilão que, pese embora seja baseado numa personagem real, suplanta largamente, em riqueza e profundidade, muitas das personagens da literatura dita respeitável e erudita.



Afinal sempre podemos chamar literatura à BD. Mas só se prometerem deixar os vilões vencer de vez em quando…

1 comment:

Me Magdalena said...

Sei que a tua análise foi apurada e segura, mas tenho pena que não tivesses dedicado algum tempo ao The Thing, que está definitivamente do lado dos bons, mas tgem um aspecto semelhante ao Hellboy na falta de beleza e na pouca auto-estima quanto à aparência. Sou menos conhecedora de BD, mas não posso deixar de me entristecer com a Coisa que queria voltar a ser homem e escolhe, no final, ser Coisa pelas melhores razões possíveis.