Tuesday, March 11, 2008

And the Oscar goes to...


Os Óscares, este ano, como, aliás, já vem sendo habitual, foram uma autêntica porcaria.

Nem tanto pelos filmes nomeados – até me parece que foi uma das melhores colheitas (embora ainda bastante pobrezinha) dos últimos cinco anos – mas, essencialmente, pela cerimónia em si.

Foi demasiado má para ser verdade! Os prémios corriam uns atrás dos outros, com o habitual despachar dos premiados em 45 segundos. Não houve segmentos musicais para além das mais que sofríveis interpretações das canções nomeadas (as quais, diga-se, também eram muito, mas muito, más). Os tributos foram ainda piores – notoriamente feitos à pressa e sem qualquer cuidado estético ou de conteúdo.

Só encontro explicação para isto na greve dos argumentistas e na incerteza da realização da edição deste ano. Tudo parecia confrangedoramente amador. Foi mesmo mau. E é indesculpável não terem incluído no In Memorian a morte do Brad Renfro, só pelo facto de ter morrido de overdose.

Ainda o menor dos males foi a apresentação do Jon Stewart, o qual, no entanto, deverá ter tido, no total, um tempo de antena de aproximadamente 30 minutos (isto, numa transmissão de quase 4 horas).

Todos os anos digo mal dos Óscares, mas a verdade é que todos os anos vejo. E explico porquê…! Vejo porque tenho a vã esperança de no ano em causa haver qualquer coisa que suplante as minhas melhores memórias de edições anteriores. Algo que me fique na retina e que leve a recordar esse momento pelo menos uma vez por ano.

Até agora tenho cinco desses momentos. Cinco momentos inesquecíveis que não posso deixar de partilhar. Curiosamente três deles são do mesmo ano, pelo que posso dizer que, para mim, a melhor cerimónia de sempre foi a de 1997. Foi o ano do “Titanic” do James Cameron (filme abominável e insuportável), mas a sua vitória esmagadora foi tão insignificante face a outros momentos dessa edição que muitas vezes me esqueço que essa xaropada ganhou 11 Óscares (os mesmos que o Ben-Hur – que sacrilégio!).

Não são raras as vezes em que retiro da prateleira a velhinha VHS na qual está gravada a cerimónia e ainda me deleito a revê-la. Mas é quando a nova edição dos Óscares se aproxima que mais prazer tenho em recordar, na minha cabeça, esses momentos.

E porque não quero que ninguém fique defraudado, aqui deixo os meus cinco momentos preferidos dos Óscares.

And the Oscar goes to….

1.º Apresentação dos prémios técnicos (que têm lugar uma semana antes da cerimónia principal) pela actriz Ashley Judd (1997)


Não consegui uma fotografia deste exacto momento, mas aqui fica uma aproximada, da cerimónia em apreço, assim como mais algumas da Ashley Judd (porque nunca serão demais).


Ainda hoje a consigo ver perfeitamente, a descer para o microfone, da esquerda para a direita, num vestido branco esvoaçante – com uma racha lateral quase até ao umbigo – e uma gardénia branca no cabelo. Estava linda! E a apresentação teve imensa piada. Já tinha reparado nela no “Heat” do Mann e no “A Time to Kill” do Schumacher, mas naquele momento fiquei apaixonado.

De longe, o melhor momento de sempre nos Óscares!!!!


2.º Tributo ao contributo cinematográfico de Frank Sinatra, apresentado por Martin Scorsese



É sabido que sou um grande fã do Chairman of the Board e que ele sempre foi melhor cantor que actor, mas este tributo (irrepreensível e tocante), por ocasião da sua morte, deixou-me com uma lágrima no canto do olho e com a sensação de que o mundo tinha ficado efectivamente muito mais pobre. E, claro, lá estavam vários clips de um dos meus filmes favoritos “Same Came Running”. É assim que se fazem tributos.


3.º Interpretação da canção “Miss Misery”, nomeada para melhor canção original, por Elliot Smith (1997)


Foi impressionante. O Elliot Smith – fraca figura –, com um ar profundamente triste, no meio de um palco gigantesco, sozinho com a sua guitarra, em pé, a sussurrar. Ainda hoje me arrepia. Parecia estranho, por um lado. Um songwriter independente, numa canção para um filme “meio” independente (Good Will Hunting), no maior espectáculo mainstream. Mas por outro lado, naquele momento, parecia não haver melhor casamento entre música e filmes. Parecia que a Academia se tinha rendido aos encantos do indie, o que, infelizmente, foi Sol de pouca dura.

Devia ter ganho. Mas não ganhou. É das melhores canções que já passou pelos Óscares, mas preferiram dar a estatueta à Celine Dion. Que tristeza!

O Elliot Smith acabou por suicidar-se alguns anos depois. Não pela derrota para a Celine Dion (embora para mim isso já fosse suficiente) mas porque a sua mente torturada não aguentou outras agruras da existência. Perdeu-se outro grande músico, ficou aquele momento memorável.


4.º In memorian 1997 (tributo aos membros da Academia falecidos no decurso daquele ano) (1997)



Incluía imagens do Jimmy Stewart e do Toshiro Mifune. Foi o in memoriam mais tocante a que assisti. As imagens do James Stewart novinho no “Mr. Smith Goes To Washington” e já perto do fim da vida a receber um Óscar honorário não podiam deixar ninguém indiferente. O segmento foi aplaudido de pé.


E para acabar num tom mais festivo,

5.º Interpretação de “Shaft” por Isaac Hayes (1999)

Quase vinte anos depois de ter ganho o Óscar, e por ocasião do lançamento do respectivo remake, tivemos direito ao verdadeiro Shaft, com meninas à mistura e um grande cenário, nunca aquele baixo soou tão vibrante. Mais uma vez, memorável.

Pode ser que para ano nos surpreendam...

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